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Abraçámos o projeto educativo proposto pela ESTE- Estação Teatral - com muito entusiasmo e inventámos esta história:
A traidora
“Por volta do século XVI ou XVII, não se sabe ao certo, um senhor, talvez nobre, possuidor de grandes bens e de terras situadas nas duas margens do rio Zêzere, resolveu legar aos seus dois filhos de apelido Januários os seus bens. Entregou a um as terras da margem direita do rio e ao outro as da margem esquerda. Assim nasceu Janeiro de Cima na margem esquerda e Janeiro de Baixo na margem direita.”
Mas tal doação de bens e terras aos Januários esteve mesmo por um fio pois o Senhor Fernando Januário esteve prestes a ficar na penúria! Vejamos pois como tudo aconteceu.
O senhor Fernando era um nobre muito bem-parecido, viúvo e pai de dois filhos: o Sebastião e o João. Como era ainda um homem novo a ideia de voltar a casar não estava posta de lado.
Certo dia de verão, andando ele a passear por suas terras, a cavalo, avistou uma mulher caída no chão. Desceu do cavalo e aproximou-se da senhora que estava inanimada e ferida no pé. A mulher vestia uns trajes nobres, era morena, cabelo escuro e comprido, aparentando ter idade similar à de Fernando. Este pegou nela ao colo, colocou-a no cavalo e galopou até sua casa onde cuidou dela.
Quando ela veio a si pouco ou nada falava. Soltava apenas pequenos e estranhos sons. Fernando entregou-a aos cuidados de Mafalda, sua criada e ama dos seus filhos. Exigia que ela fosse tratada com todos os requintes e que Mafalda se dedicasse mais à dita senhora que aos seus filhos.
- Mas senhor, são horas dos meninos almoçarem…
- Que esperem! Não vê como aquela mulher está fraca?
- Mas senhor…
- Limite-se a cumprir ordens!
E assim passaram-se duas semanas. Fernando continuou a tratar dela com muita dedicação e curiosidade. Passava os dias a cismar… Quem seria ela? Donde teria vindo? Por que não falava?
A pouco e pouco a mulher foi recuperando a saúde. Os filhos de Fernando, ainda pequenos, estavam proibidos de fazer barulho, de correr, de brincar… O sossego daquela senhora não podia ser perturbado!
Por fim a mulher começou a falar. Não se recordava do nome, da idade…enfim, não sabia quem era! Uma verdadeira calamidade!
Fernando passou a chamar-lhe Maria pois, dizia ele, esse nome ela deveria ter apesar de acompanhado de outro. Quanto aos filhos Maria enxotava-os, dizendo que a cansavam muito… Também tratava a criada com bastante antipatia.
- Vá buscar-me um copo de água! Vá! De que está à espera, criada reles?
Fernando apaixonou-se irremediavelmente pela Maria. Até falava em casar! E ela tratava-o com muito carinho, sibilando-lhe palavras meigas e aconselhando-o nos afazeres da casa.
- Os vossos amorosos filhos necessitam de mais estudos. Já estão na idade de saírem daqui. Eles, que são tão adoráveis, não podem ser educados por uma simples ama… Não é que eu não goste dela! Ela tem sido um anjo para mim…
Fernando decidiu mandar os filhos para a capital. Fernando decidiu casar com Maria.
Mafalda começou a aperceber-se que Maria saia sempre depois do seu senhor partir para fiscalizar os seus terrenos. Certo dia, seguiu-a. Maria entrou na floresta e encontrou-se com um homem… Eles beijavam-se e riam-se!
Quando seu amo chegou, Mafalda tentou alertá-lo.
- Meu senhor, preciso de falar convosco! É muito importante. Necessito de falar acerca da senhora Maria… Ela não é boa pessoa… - dizia, em sussurro, Mafalda.
- O quê? O que estás a dizer? Mas o que se passa? – inquiriu seu amo.
- Psiu! Senhor, olhe que ela pode ouvir! … Ela sai para se encontrar com um homem…
- Não acredito! – gritou Fernando.
Com o grito Maria saiu do quarto e inteirou-se do que passara.
- Como ousas, Mafalda! Que mal te fiz eu para inventares tal história? – e começou a chorar descontroladamente.
- Meu amor, não choreis. É claro que eu sei que é mentira.
- Choro sim. Até me dói a alma. Que grande mentira! Eu bem sabia que ela estava apaixonada por ti…
- Por mim? Que dizeis?!
- Sim, inventou tudo para nos afastar…
- Não, eu digo a verdade. Eu vi tudo. Eu segui-vos! – gritou inconformada Mafalda.
Maria desatou a chorar amargamente. Até que Fernando ordenou:
- Mafalda, faz as tuas malas e amanhã, quando eu chegar, não a quero ver aqui!
- Mas, senhor…
O jantar foi servido como de costume. Maria continuava chorosa.
- Não a mandeis embora, coitadinha… É verdade que estou muito magoada e que ela é uma mentirosa mas… coitadinha…
- Está decidido!
Fernando partiu cedo para as suas terras. Antes de partir encontrou-se com Mafalda à porta.
- Já tenho as malas feitas. Vou partir… Mas, por favor, escondei-vos ali, naquela floresta, ao pé daquele pinheiro velho e vereis que vos digo a verdade…
- Como ousas! – disse Fernando.
Mafalda partiu. Fernando partiu… Partiu para o sítio apontado pela criada.
Viu Maria sair de casa. Viu-a dirigir-se para ali. Viu-a encontrar-se com um homem. Viu-os beijarem-se loucamente apaixonados.
- Este já cá canta. Depois de me casar com o parvinho vamos caçar outro!
Graças a Mafalda tudo acabou bem. A mulher e o homem foram presos. Há muito que andavam no enlace deles.
Os filhos de Fernando regressaram a casa. Mafalda voltou a casa de seu amo… Bom, do seu futuro marido!
Hoje estávamos muito patrióticos!